terça-feira, 18 de novembro de 2014

Não há fogo, não há circo


Foi ontem que decorreu o balanço do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais (DECIF) referente a 2014. Estiveram na sessão membros do Governo, da Liga dos Bombeiros Portugueses e dos três pilares que constituem este dispositivo: o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), Guarda Nacional Republicana (GNR) e Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC).

Curiosamente ou não, durante todo o dia de ontem e durante o dia de hoje, tentei encontrar notícias sobre este balanço e pouco encontrei. Existe uma breve referência colocada hoje no site da ANPC e encontrei algumas notícias em que surge o presidente da ANPC, Major Francisco Grave Pereira, a comentar a saída de Miguel Macedo do Ministério da Administração Interna, dizendo que a saída deste em nada influenciaria a continuidade do plano traçado no que ao combate a incêndios florestais diz respeito. Mais do que isto, não encontrei. Admito, no entanto, que existam mais notícias sobre o evento.

É curioso como as coisas mudam de um ano para o outro. O ano passado, com mais fogos e mortes, não se falava de outra coisa e até as fragilidades do SIRESP (Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança de Portugal) serviram para grandes reportagens. O relatório que procurava dar alguma luz sobre os acidentes fatais que ocorreram o ano passado, também gerou polémica e acusações de uns e de outros. Só a primeira parte do mesmo foi revelada. A parte que analisa mais concretamente os acidentes em questão e a responsabilidade de cada um dos intervenientes continua a não ser divulgado. Mesmo assim, a revelação da primeira parte foi o suficiente para criar barulho, com cada um a empurrar as culpas para o outro lado, como se dentro das organizações que representam, todos fossem perfeitos e intocáveis. Eu que li a primeira parte do documento com distanciamento, não vi ali nada que pusesse em causa a dignidade ou o trabalho dos intervenientes. Simplesmente, foram mencionados possíveis comportamentos e procedimentos que podem ser melhorados, sempre do ponto de vista da segurança de quem está na frente de fogo e da melhoria da eficácia no combate ao mesmo. Ao que parece, há quem tenha tido uma leitura diferente...

Este ano houve menos incêndios (o número mais baixo dos últimos 25 anos) e menos área ardida (o segundo valor mais baixo dos últimos 35 anos). Portanto e ao que parece, voltou tudo a estar bem. O SIRESP deve funcionar maravilhosamente e os erros que se cometeram no passado, não passam disso mesmo, coisas do passado. A comunicação social, por outro lado, sem mortes, sem gritos e acusações deste e daquele, deixou de ter assunto. É fantástico o combate aos incêndios florestais em Portugal!

Para o ano, se as temperaturas forem altas, se existir um Verão a sério, se existirem ondas de calor prolongadas e os níveis de humidade da vegetação forem baixos, talvez voltemos ao circo do costume. Até lá, elogiemos o DECIF ou, simplesmente, ignoremos o mesmo. O ano passado parece que era horrível. Este ano foi maravilhoso.

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