"Não há rigorosamente nada de novo a dizer. Já tudo foi estudado, explicado e escrito na última década e meia. Houve comissões para todos os gostos e feitios. E foi feito muito trabalho sério. Faltou tudo o resto. Faltou pôr a tratar de incêndios florestais quem percebe de floresta. Faltou integrar prevenção e combate. Faltou ordenamento. faltou pensar no longo prazo. E adiou-se o mesmo de sempre: fazer da floresta uma prioridade, fazer de um terço do território nacional uma prioridade."
Ana Fernandes, Público, 19 de Junho de 2017.
São 20h00 de 20 de Junho de 2017. A esta hora os fogos de Pedrogão Grande e de Góis continuam activos. Um autêntico exército de bombeiros portugueses, espanhóis e outras entidades continuam empenhadas no combate. Há três horas atrás surgiu a notícia, amplamente confirmada por todos os órgãos de comunicação social, que um avião Canadair tinha caído no combate ao incêndio de Pedrogão. Ao que parece, pessoas ligadas às entidades oficiais confirmaram esta informação em conversas com jornalistas. Estranhamente, duas horas depois essa informação é desmentida (???). Ainda bem.
Ontem no Prós e Contras houve mais um debate sobre incêndios florestais. Não sei há quantos anos existe este programa mas este tema deve ser certamente dos mais debatidos ao longo de todos estes anos. Não querendo recuar para os anos 80 e 90, as semelhanças entre o debate de ontem e os debates ocorridos em 2003 não são pura coincidência. Como não são pura coincidência as semelhanças com os debates que aconteceram em 2005, 2013 e 2016 (isto para resumir a coisa). As receitas, os diagnósticos, as justificações e as acusações são as mesmas de sempre. Quase que é possível adivinhar o que cada um vai dizer. A comunidade científica, governantes, ANPC e bombeiros a esgrimirem argumentos. Uns e outros a dizerem verdades. Mas como sempre, uns e outros com a incapacidade de perceberem que todas as contribuições são válidas e que só em conjunto será possível, de forma séria e eficaz, resolver um problema de décadas. Sem supostas superioridades morais ou intelectuais. Problema esse que vai muito para além da prevenção, da preparação e da resposta, mas que é também um problema social, demográfico e de ordenamento. Todos o sabemos. Os que se interessam pelo tema ou aqueles que só se lembram dele quando o jornal das 8 da noite abre com chamas por todos os lados. Todos o sabem.
São 20h20 de 20 de Junho de 2017 e pede-se, por favor e de uma vez por todas, que aquela tragédia inesquecível de 17 de Junho de 2017 seja o Dia 0 do problema dos incêndios florestais em Portugal. Se 64 mortos não servirem para que seja desta, não vale a pena repetirem debates, comissões, estudos e anúncios disto e daquilo. Ninguém mais vai acreditar se não for desta. Aproveitem a oportunidade. Aproveitem a mobilização do país. E, acima de tudo, honrem as centenas de vidas que já se perceberam neste combate. É agora ou nunca.
Nota Editorial
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É um blog criado por um cidadão com interesse na área da Protecção Civil e que pretende, com o que neste espaço é publicado, dar a conhecer e, se possível, envolver outros cidadãos nas questões ligadas com as matérias da prevenção, mitigação, resposta e recuperação dos diversos tipos de emergências ou catástrofes.
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