Em plena fase Charlie do DECIF 2015, viveram-se momentos complicados nos últimos dias. Muitas ocorrências, alguns incêndios de enormes proporções, operacionais (desde bombeiros, GIPS, sapadores florestais, AFOCELCA e demais agentes de protecção civil, além da população) a darem o que têm e o que não têm no combate e o habitual "circo mediático" à volta dos fogos.
Em consequência disto, surgem as criticas do costume. Algumas, certamente, bem intencionadas e outros nem tanto. Surgem também os lamentos do costume. Dos bombeiros, dos autarcas, das populações, de organizações não governamentais, etc. Se há algo de positivo a retirar dos lamentos, é que todos já perceberam que a questão fulcral está a montante e não a jusante, ou seja, o problema não é o combate, mas sim a falta de aposta na prevenção.
Apesar de algumas criticas que ainda vou lendo e ouvindo relativamente ao combate, penso que neste capítulo ninguém pode afirmar que não houve uma evolução positiva. Basta analisar o sucesso do ataque inicial e do, apesar de tudo, reduzido número de ocorrências em que há necessidade de passar a ataque ampliado, mesmo em dias de quase 400 ocorrências (no dia 9 de Agosto, por exemplo, atingiram-se as 380 ocorrências em Portugal continental) e onde os meios humanos e materiais estão dispersos por diversos pontos. A principal crítica que me vou apercebendo (à parte de uma outra situação em que a estratégia seguida para o combate é criticada) é referente à falta de pessoal especializado no dispositivo para efectuar fogo táctico ou à falta de preparação daqueles que dele fazem parte e que têm por missão efectuar este tipo de operação. Não vou, obviamente, opinar sobre isto por não ter competência e conhecimento para tal, limito-me apenas a referi-lo, porque o tenha visto referenciado, nomeadamente, por pessoas ligadas a instituições académicas especializadas na formação de técnicos para este efeito.
Se no combate, apesar de tudo, a discussão não tem sido muita, a referência à falta de aposta na prevenção e ao pouco investimento na mesma é, pode mesmo dizer-se, consensual. A pergunta que se faz, é como é que algo tão consensual, algo que cientificamente está mais que provado que deve ser o caminho, demora tantos anos a ser, efectivamente, colocado em prática na generalidade do território? E sim, há pessoas e instituições que o defendem há muito e que o referem não só nas fases mais complicadas de incêndios (apesar de haver cada vez mais evidências que o período de incêndios florestais alarga-se cada vez mais ao longo do ano), mas também o fazem noutros momentos onde a questão dos incêndios florestais está mais esquecida e, certamente, nos locais certos e a quem de direito.
Depois existem os outros. Os tais que aparecem no meio do "circo", que vêm dizer o que todos já sabem ou que se limitam a afirmar coisas sem terem o mínimo suporte científico para o fazer. O objectivo pode ser simples protagonismo e, outras vezes, mero jogo político e partidário. Neste particular, temos o exemplo recente do Bloco de Esquerda, que aproveitou a "onda" para criticar o governo em altura pré-eleitoral, dizendo meia dúzia de banalidades sobre prevenção e a referir uma suposta falta de meios materiais e humanos para o combate. Tudo isto, sem a mínima base cientifica que possa suportar a tese de que os grandes incêndios dos últimos dias se deveram à falta de um ou outro meio aéreo ou à falta de pessoal para o combater. Estou dar aqui o exemplo do Bloco, mas podia falar de qualquer outro partido, da esquerda à direita, que aproveitam muitas vezes estes momentos para fazer aproveitamento politico de situações graves, que colocam em causa vidas, bens materiais e ambientais e que são, sobretudo, originadas por um problema estrutural do país. E este problema estrutural, tal como outros, não deveria permitir aproveitamentos políticos, mas sim soluções, consensos e uma fiscalização apertada sobre o cumprimento da legislação.
Certamente que a aposta efectiva na prevenção, não vai mudar o cenário de um ano para o outro. Vai demorar anos, provavelmente, décadas e os principais focos devem ser, naturalmente, o ordenamento correcto das zonas florestais e de matos, mas também a sensibilização das populações ao nível local para que percebam, de uma vez por todas, que a limpeza dos matos à volta das habitações é algo de obrigatório para defesa dos seus bens e vidas. Por outro lado, é também injusto dizer que nada tem sido feito. À vista desarmada, quando nos deslocamos pelo país, da mesma forma que muitas vezes olhamos para um determinado local de matos ou floresta e pensamos para nós "se houver aqui um incêndio, vai ser uma situação muito complicada", existem também diversos locais, onde verificamos que essas zonas estão devidamente ordenadas e protegidas para uma eventual ocorrência de incêndio. Nem tudo será mau, mas é óbvio que haverá muito a fazer. A questão é mesmo essa: fazer! Se possível, sem "circos".
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