Nota Editorial

Este blog não se apresenta ligado a qualquer organização ou instituição relacionada, directa ou indirectamente, com a Protecção Civil e ao socorro. Não existe aqui qualquer intenção ou presunção de substituir os espaços oficiais das organizações que tutelam esta área ou de outras que com ela estejam relacionadas ou ligadas, quer do ponto de vista informativo, quer do ponto de vista técnico.
É um blog criado por um cidadão com interesse na área da Protecção Civil e que pretende, com o que neste espaço é publicado, dar a conhecer e, se possível, envolver outros cidadãos nas questões ligadas com as matérias da prevenção, mitigação, resposta e recuperação dos diversos tipos de emergências ou catástrofes.
Comunicar possíveis riscos e acções de resiliência é o principal objectivo deste espaço, sempre do ponto de vista de uma cidadania que se quer atenta e participativa.
A frase "todos somos Protecção Civil" é o lema deste espaço.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Chile: investimentos que compensam

O Chile foi sacudido por um poderoso terramoto com a magnitude de 8,3. O sismo ocorreu junto à costa, a uma profundidade de 25km, entre as cidades de Valparaíso e Coquimbo. Cerca de 42 mil pessoas estiveram sujeitas a uma exposição considerada "Severa" e mais de 800 mil a uma exposição considerada "Muito Forte". O terramoto provocou também um tsunami em que a onda com maior altura atingiu os 4,8 metros junto à costa de Coquimbo. Toda a costa chilena foi colocada em Alerta Vermelho pelas autoridades chilenas e 1 milhão de pessoas foram evacuadas. Até à data em que este texto é escrito, estão contabilizados 13 mortos.

Para um sismo desta magnitude e apesar do lamento que todas as mortes provocam, não deixa de ser uma boa notícia o facto de só 13 pessoas terem padecido em consequência deste sismo. Apesar de não ter tido a magnitude do sismo de 2010 (8,8) e só ter libertado um terço da energia deste, o terramoto desta semana foi o maior sismo registado em todo o mundo desde 2012.

Apesar do epicentro deste sismo ter tido lugar numa área menos povoada relativamente ao sismo de 2010 (este sismo provocou 525 mortes), há que realçar os enormes progressos que as autoridades do Chile fizeram ao nível da Prevenção/Mitigação (sendo que esta fase teve, certamente, início logo na fase da Recuperação/Reabilitação do sismo de 2010), Preparação e Resposta a este tipo de eventos. Começando pelas estruturas dos edifícios, estas tiveram grandes progressos nos últimos tempos. Os novos edifícios foram construídos segundo padrões anti-sísmicos e os mais antigos têm sido melhorados e renovados. Este é sem dúvida um dos principais motivos para o número de mortos ter sido bastante reduzido em relação a 2010. Outros dos factores que também contribuíram para o diminuto número de mortos, foram os sistemas de monitorização do nível médio das águas do mar e de alerta de tsunami criados ao longo da costa chilena e que permitiram uma rápida e eficiente evacuação de uma quantidade significativa de pessoas. Deste facto, não podemos também dissociar a criação de rotas de evacuação e a forma como a população foi educada a utilizar as mesmas. Já na fase da resposta, é de referir os progressos efectuados na coordenação das equipas de socorro quer ao nível nacional, quer regional.

No fundo, o que este sismo veio provar, nomeadamente o reduzido número de mortes, é que o investimento por parte das autoridades chilenas em todas as fases do Ciclo da Catástrofe, acabou por ter resultados a curto/médio prazo e os resultados a longo prazo poderão ser ainda melhores. Outra conclusão que podemos retirar, se compararmos este sismo com aquele que ocorreu no Nepal em Abril (e que teve uma magnitude menor), é que os países mais pobres e com infraestruturas mais debilitadas, são muito mais vulneráveis que os países mais desenvolvidos a este tipo de catástrofes naturais. O Chile, apesar de inserido numa área do globo com problemas graves, é hoje um país mais próspero, com uma qualidade de vida já aceitável e com mais e melhores meios para resistir e responder a catástrofes desta dimensão.

Todas estas conclusões (que não são novas) devem ser seguidas e postas em prática noutros países sujeitos ao perigo de sismos (tal como Portugal). O que o Chile demonstrou nos últimos anos foi uma enorme capacidade de resiliência, aprendendo com os erros e vulnerabilidades do passado, tornando a sua população e as suas infraestruturas mais bem preparadas e resistentes aos efeitos dos violentos sismos aos quais está sujeito com regularidade. Um exemplo a seguir por outros.

Fontes:
http://www.redhum.org/documento_detail/onemi-reporte-no9-monitoreo-sismo-de-mayor-intesidad-y-alerta-de-tsunami

http://portal.gdacs.org/GDACSDocuments/JRC_Report_20150917%20Chile%20Earthquake%20Tsunami.pdf

http://www.unisdr.org/archive/45810

http://mobile.nytimes.com/2015/09/18/world/americas/chile-earthquake-tsunami-impact.html?smid=tw-nytimesworld&smtyp=cur&_r=5&referrer=

http://www.elnuevoherald.com/noticias/mundo/america-latina/article35761788.html



quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Aproveitamentos e lamentos... Mais do mesmo no "circo do fogo".

Em plena fase Charlie do DECIF 2015, viveram-se momentos complicados nos últimos dias. Muitas ocorrências, alguns incêndios de enormes proporções, operacionais (desde bombeiros, GIPS, sapadores florestais, AFOCELCA e demais agentes de protecção civil, além da população) a darem o que têm e o que não têm no combate e o habitual "circo mediático" à volta dos fogos.

Em consequência disto, surgem as criticas do costume. Algumas, certamente, bem intencionadas e outros nem tanto. Surgem também os lamentos do costume. Dos bombeiros, dos autarcas, das populações, de organizações não governamentais, etc. Se há algo de positivo a retirar dos lamentos, é que todos já perceberam que a questão fulcral está a montante e não a jusante, ou seja, o problema não é o combate, mas sim a falta de aposta na prevenção.

Apesar de algumas criticas que ainda vou lendo e ouvindo relativamente ao combate, penso que neste capítulo ninguém pode afirmar que não houve uma evolução positiva. Basta analisar o sucesso do ataque inicial e do, apesar de tudo, reduzido número de ocorrências em que há necessidade de passar a ataque ampliado, mesmo em dias de quase 400 ocorrências (no dia 9 de Agosto, por exemplo, atingiram-se as 380 ocorrências em Portugal continental) e onde os meios humanos e materiais estão dispersos por diversos pontos. A principal crítica que me vou apercebendo (à parte de uma outra situação em que a estratégia seguida para o combate é criticada) é referente à falta de pessoal especializado no dispositivo para efectuar fogo táctico ou à falta de preparação daqueles que dele fazem parte e que têm por missão efectuar este tipo de operação. Não vou, obviamente, opinar sobre isto por não ter competência e conhecimento para tal, limito-me apenas a referi-lo, porque o tenha visto referenciado, nomeadamente, por pessoas ligadas a instituições académicas especializadas na formação de técnicos para este efeito.

Se no combate, apesar de tudo, a discussão não tem sido muita, a referência à falta de aposta na prevenção e ao pouco investimento na mesma é, pode mesmo dizer-se, consensual. A pergunta que se faz, é como é que algo tão consensual, algo que cientificamente está mais que provado que deve ser o caminho, demora tantos anos a ser, efectivamente, colocado em prática na generalidade do território? E sim, há pessoas e instituições que o defendem há muito e que o referem não só nas fases mais complicadas de incêndios (apesar de haver cada vez mais evidências que o período de incêndios florestais alarga-se cada vez mais ao longo do ano), mas também o fazem noutros momentos onde a questão dos incêndios florestais está mais esquecida e, certamente, nos locais certos e a quem de direito.

Depois existem os outros. Os tais que aparecem no meio do "circo", que vêm dizer o que todos já sabem ou que se limitam a afirmar coisas sem terem o mínimo suporte científico para o fazer. O objectivo pode ser simples protagonismo e, outras vezes, mero jogo político e partidário. Neste particular, temos o exemplo recente do Bloco de Esquerda, que aproveitou a "onda" para criticar o governo em altura pré-eleitoral, dizendo meia dúzia de banalidades sobre prevenção e a referir uma suposta falta de meios materiais e humanos para o combate. Tudo isto, sem a mínima base cientifica que possa suportar a tese de que os grandes incêndios dos últimos dias se deveram à falta de um ou outro meio aéreo ou à falta de pessoal para o combater. Estou dar aqui o exemplo do Bloco, mas podia falar de qualquer outro partido, da esquerda à direita, que aproveitam muitas vezes estes momentos para fazer aproveitamento politico de situações graves, que colocam em causa vidas, bens materiais e ambientais e que são, sobretudo, originadas por um problema estrutural do país. E este problema estrutural, tal como outros, não deveria permitir aproveitamentos políticos, mas sim soluções, consensos e uma fiscalização apertada sobre o cumprimento da legislação.

Certamente que a aposta efectiva na prevenção, não vai mudar o cenário de um ano para o outro. Vai demorar anos, provavelmente, décadas e os principais focos devem ser, naturalmente, o ordenamento correcto das zonas florestais e de matos, mas também a sensibilização das populações ao nível local para que percebam, de uma vez por todas, que a limpeza dos matos à volta das habitações é algo de obrigatório para defesa dos seus bens e vidas. Por outro lado, é também injusto dizer que nada tem sido feito. À vista desarmada, quando nos deslocamos pelo país, da mesma forma que muitas vezes olhamos para um determinado local de matos ou floresta e pensamos para nós "se houver aqui um incêndio, vai ser uma situação muito complicada", existem também diversos locais, onde verificamos que essas zonas estão devidamente ordenadas e protegidas para uma eventual ocorrência de incêndio. Nem tudo será mau, mas é óbvio que haverá muito a fazer. A questão é mesmo essa: fazer! Se possível, sem "circos".

domingo, 28 de junho de 2015

Hollywood também pode ser pedagógica

Tive oportunidade de visualizar o filme "San Andreas", que retrata um possível e esperado terramoto no estado americano da Califórnia.

Pondo de parte opiniões cinematográficas, apesar do drama familiar e amoroso que se desenrola ao longo do filme, deste podem retirar-se algumas lições de comportamentos a ter em caso de sismo e de análise de determinados sinais que nos podem ajudar a perceber o que vai acontecer a seguir. Além disto, o filme ajuda-nos também a perceber o que acontece quando um sismo de grande intensidade e magnitude atinge uma grande cidade e todas as situações que poderão ser vividas durante e depois da ocorrência do terramoto (pânico, mortos e feridos por todo o lado, falhas de electricidade e de telecomunicações, pilhagens, etc). No caso específico deste filme, tendo em conta que o sismo atinge uma cidade do litoral, é retratado também o tsunami que se seguirá ao terramoto.

Entre outros, destaco três momentos que podem servir de dicas de aprendizagem a quem visualizou este filme: se estivermos num interior de um edifício, devemos proteger-nos debaixo de uma mesa ou secretária, protegendo a cabeça; a referência ao denominado "triângulo da vida", que, basicamente, consiste na protecção junto a um móvel ou a uma construção resistente (sendo este o exemplo retratado no filme), que irá permitir que se crie um espaço entre esse objecto ou construção resistente e o local onde os destroços irão cair, permitindo deste modo que a pessoa ocupe esse espaço sem ser atingida por objectos em queda; por último, a análise do súbito recuo das águas do mar, que é um sinal claro que um tsunami está prestes a acontecer.

Tendo em conta que estamos num país onde a sua capital e arredores, assim como a zona sul do país, estão numa zona de elevado risco sísmico (tal como a Califórnia, nós também estamos à espera do nosso "big one"), tudo o que possa servir de aprendizagem à população poderá ser bastante útil na hora da verdade. Se pensarmos na quantidade de pessoas que o irão visualizar no cinema, no computador ou na televisão, filmes com uma componente comercial forte como " San Andreas", podem ser excelentes formas de educação e sensibilização da população. Em horas de tranquilidade pode soar a exagero, mas se fixarmos alguma ou algumas destas regras que o filme refere, poderá ser o suficiente para salvarmos a nossa vida e a de outros.


domingo, 12 de abril de 2015

"Desastres Naturais - Impacto Económico e Período de Reconstrução"

De Andrea Klaus (engenheira de risco de resseguro na empresa Daimler Insurance Services, Gmbh) e prefaciado por José António de Sousa (Presidente e CEO da Liberty Seguros Portugal), esta publicação é uma interessante abordagem à temática dos desastres naturais, nomeadamente, aos impactos macro e micro económicos que estas calamidades naturais provocam nas regiões e populações afectadas.

O livro, na sua fase inicial, aborda alguns conceitos básicos da Gestão do Risco de Desastre, partindo depois para uma análise mais detalhada sobre os impactos económicos dos desastres naturais nos países em desenvolvimento, tendo como base o caso de estudo do impacto do tsunami de 2004 na região de Khao Lak na Tailândia. Questões como a importância da ajuda internacional (Comunidade Internacional de Doadores), o papel das organizações de ajuda na fase da resposta ao desastre e na fase da reconstrução/reabilitação da região e a questão da transferência de risco (questão fundamental nos países em desenvolvimento ou emergentes), têm uma interessante e pertinente reflexão nesta publicação.


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Ciclo da Catástrofe

Ciclo da Gestão de Risco (LNEC, 2008)

Um ciclo é "uma sucessão de factos ou acontecimentos que decorrem periodicamente e que, partindo de um determinado estado, voltam a si mesmo" (Oliveira, 2014, pág. 151). Ou seja, o Ciclo de Catástrofe, corresponde às fases que ocorrem antes e após um dado evento catastrófico ou desastre, e que, no final desse mesmo ciclo, volta a reiniciar-se. O Ciclo da Catástrofe, tem também outras designações, tais como, o Ciclo da Gestão de Risco, Ciclo da Emergência ou Ciclo da Prevenção de Desastres, por exemplo. Aliás, estas designações podem ser visualizadas nas figuras que acompanham este texto.

Existem dois tempos de actuação neste Ciclo da Catástrofe: o tempo antes do desastre, onde se incluem as fases da Prevenção e da Preparação; e o tempo após a ocorrência do desastre, onde passamos para a fase da Resposta e de Recuperação (sendo que nesta última, é também o ponto onde o ciclo se reinicia e a fase da Prevenção surge novamente).

Na fase da Prevenção, são tomadas medidas "destinadas a impedir ou evitar que fenómenos naturais, actividades industriais ou outras desenvolvidas pelo homem, possam provocar catástrofes" (Oliveira, 2014, pág. 163). Nesta fase da Prevenção, pode incluir-se o conceito de Mitigação (aliás, esta fase aparece mencionada em alguns artigos e figuras como a fase da Prevenção e Mitigação). Este conceito de Mitigação compreende "medidas estruturais e medidas não estruturais empreendidas antes da ocorrência de uma ameaça natural, tecnológica ou originada pelo homem" (Oliveira, 2014, pág. 160). Nesta fase, têm destaque acções do tipo legislativo e de ordenamento do território.

Ainda antes da ocorrência do desastre, surge a fase da Preparação para o mesmo. Aqui procura-se implementar uma série de actividades e medidas "com o objectivo de reduzir ao mínimo as perdas de vidas humanas e outros danos e ainda organizando oportuna e eficazmente a resposta e a reabilitação" (Glossário Protecção Civil, 2009, pág. 32). Esta fase está mais ligada com a Protecção Civil e às entidades que com ela estão ligadas. Nesta fase são criados planos de emergência, definem-se níveis de alerta, são efectuados simulacros, procurando sempre envolver e educar a população, de modo a generalizar comportamentos e acções aquando do momento da ocorrência.

Ciclo da Emergência (Blog Protecção Civil de Setúbal, 2010)

Após a ocorrência de um evento catastrófico ou desastre, surge a fase da Resposta. Esta fase poderá até ocorrer durante a ocorrência do desastre, dependendo da duração do mesmo. A Resposta inclui "o socorro, as actividades de apoio logístico, assistencial e médica, avaliação de danos, vistorias, desobstrução de vias e reabilitação de serviços essenciais" (Oliveira, 2014, pág. 166). É nesta fase que são colocadas em prática as acções previstas no planos de emergência efectuados na fase da Preparação.

Com a fase da emergência terminada e as equipas das diversas entidades devidamente colocadas no terreno, com a situação controlada, surge a fase da Recuperação. Esta fase compreende o "conjunto de decisões e acções após a catástrofe, destinadas a restabelecer as condições de vida existentes anteriormente à afectação da comunidade" (Oliveira, 2014, pág. 164). Nesta fase, deverão ser colocadas em prática, novamente, as questões relacionadas com a Prevenção, dando-se início a um novo Ciclo da Catástrofe.

Existem diversos trabalhos e obras que analisam e estudam esta matéria de uma forma mais profunda e, obviamente, com mais exactidão e pormenor do que aquela que é aqui apresentada. Aqui procurou-se fazer um resumo de todo o processo do Ciclo da Catástrofe. Existem ainda outros conceitos a ter em conta na abordagem a este processo, tais como, a Gestão do Risco de Desastre (antes da ocorrência) ou a Gestão da Emergência (durante ou após a ocorrência), entre outros.

Ciclo da Prevenção de Desastres (Atkinson et al, 2006)